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redhookschool.com/blog/storymaking
Que a palavra storytelling tem sido a bola da vez no meio publicitário, em especial nos últimos dez anos, não é novidade. E que, by the way, vem funcionando muito bem, afinal, quem não gosta de uma boa história? Mas se pararmos para pensar em todas as transformações que o mundo sofreu só nos últimos 10 anos, podemos chegar a uma pergunta importante: por quanto tempo mais apenas contar uma boa história vai ser o suficiente para atrair e fidelizar consumidores?
O fato é que dez anos não parece muito tempo. Mas se olharmos de perto, veremos que algumas das maiores empresas de hoje nem existiam há alguns anos. Isso mostra a velocidade em que o mercado está se movendo. O consumidor, que sempre foi tratado como mero espectador, alguém de fora da narrativa, está dando um novo passo rumo ao protagonismo, junto às marcas que estão dispostas a proporcionar isso, forçando o marketing a dar mais uns passos à frente. Uma vez que o velho formato em que uma marca compra um espaço pra falar bem dela mesma é algo cada vez menos bem visto. Haja visto os casos de storytelling mentirosos como o da Diletto e os Sucos do Bem, que levantam a questão da veracidade das histórias contadas pelas marcas para criar empatia com o público.
Não fosse o bastante, vemos muitos veículos fora da sua zona de conforto, sendo eles agora os espectadores vendo as mudanças acontecerem. Sem mencionar as agências que já foram ouro para seus clientes e que hoje adentram o mar da irrelevância por não conseguir mudar seu modus operandi. Uma crise quase que existencial que vem abalando o mercado da comunicação como um todo.
É nessa contra corrente que o storymaking acha seu espaço, em novas companhias que estão surgindo, empresas que não constroem apenas marcas, constroem o futuro, deixam em segundo plano o storytelling e trazem para o primeiro plano o storymaking, buscando a verdade dos clientes e não só da marca. Empresas como Red Bull, Tesla, Apple estão fazendo história, colocando a sua visão de mundo e não apenas produtos na mesa. São protagonistas junto com os consumidores na construção do amanhã. O termo pode ser até atual, mas mesmo antes dele existir formalmente, empresas como a Apple já criavam seu storymaking, reunindo debaixo dessa bandeira não só uma equipe, mas uma comunidade de pessoas dispostas a criar o novo e mudar o mundo para sempre.
Mas falar da Apple quando o assunto é cultura e visão empresarial é covardia. Mesmo assim, o fato é que essa visão da Apple plantada há 40 anos foi responsável por boa parte da revolução digital que vemos hoje. Essa é a força do storymaking. É isso que faz dela uma marca tão relevante para seus consumidores. Marcas quem entendem que os consumidores são pessoas em busca de um propósito maior, que querem se sentir parte de algo e porque não usar uma marca para ser o estopim de tudo isso. A RedBull se aproveita desse momento talvez sendo uma das marcas que está mais imersa junto ao seu público, criando conteúdo exclusivo, de forma inovadora e com experiências reais e que envolvem os fãs de esportes radicais.
Marcas storymakers tem seus “inimigos” bem definidos. Elas sabem porque existem e o que defendem. A Tesla, por exemplo, luta contra a energia não renovável e trabalha para desenvolver carros e equipamentos com energia sustentável como a eletricidade. Essa é uma empresa com um propósito bem definido e que não conta apenas uma histórias a seus consumidores. Mas é protagonista da transformação.
Muito mais que criar produtos, as grandes marcas do futuro precisam criar valor para seus clientes. Já conseguimos ver esse movimento lentamente aflorando com empresas como Google, Facebook, Waze, Tripadvisor, Uber, Spotify e muitas outras que mais do que vender um produto, procuram soluções para atender seus clientes gerando valor e criando o mundo em que viveremos em alguns anos.
O fato é que os bordões publicitários já não são mais tão poderosos. As pessoas demandam hoje autenticidade, verdades nas marcas que escolhem consumir, verdades que compartilham. Iniciativas que estejam em ressonância com as competências essenciais da marca, garantindo uma presença relevante das marcas na vida das pessoas, saindo do lugar de dizer e ir para o lugar do fazer, criar, contar histórias através de ações, e engajar pessoas fazendo delas parte fundamental da história. Pode até parecer um pouco distante, mas o fato é que precisamos estar atentos como comunicadores, não precisamos reinventar a roda, mas sim fazer ela voltar a girar. Se isso será o negócio do futuro ou o futuro dos negócios, é difícil dizer, mas o fato é que jacaré que fica parado vira bolsa.
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Bruno Dittert conta com experiência de mais de 12 anos no mercado publicitário paranaense. Há 7 anos fundou a Agência Hey!, onde atua como Diretor de criação e que recentemente ingressou no maior grupo de agências independentes do Brasil, o Grupo LEAG. Formado em Publicidade e Propaganda, pós-graduado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recentemente foi selecionado para participar do programa de empreendedorismo criativo da School of Life, uma academia empresarial com sede em Miami (Estados Unidos) e Barcelona (Espanha), que tem como objetivo cultivar novas formas de empreender.